Artigos | 19/04/2023
Gabriel Picavêa Torres, artigo publicado no jornal Zero Hora em 16/03/2022
No famoso “A Praça e A Torre”, o historiador Niall Ferguson postula que a efervescência da liberdade de expressão com o advento das mídias sociais, curiosamente, não tem a ver com a chegada dos computadores, mas com o surgimento da prensa de Gutenberg.
A prensa trouxe não apenas a proliferação de livros com inovadoras ideias, mas também a multiplicação de panfletos, muitos mal escritos e mal editados. Se o custo de se expressar era assustadoramente alto àquela época, algo exclusivo de nobres e mosteiros, Gutenberg o reduziu enormemente com sua invenção.
Em proporções exponencialmente maiores, as novas ferramentas fizeram o mesmo nesta aurora de século XXI. Se antes a mensagem precisava passar por um filtro – imprensa, sindicatos, empresas, agências, poder público –, agora as novas formas de comunicação permitem que chegue diretamente ao consumidor.
Se você se apressa em concluir que isso é necessariamente ruim, ou necessariamente bom, peço que reflita. Afinal, tudo que pode ser consumido em estado bruto traz oportunidades (para encontrar algo de valor nunca percebido antes) e ameaças (de ser algo nocivo ou inacabado).
Hoje somos consumidores e produtores de informação. Se antes a reflexão de alguém sobre totalitarismo precisava passar por um filtro até chegar a você, hoje ela está disponível em tempo real. Ao mesmo tempo, se aquele analista mais perspicaz que denunciava os erros do governo passava despercebido pelo boicote silencioso, hoje você o acessa rapidamente.
Tudo isso traz um desafio que compartilhamos com a época de Gutenberg: aprender a lidar com a cacofonia de informações. Não dependemos mais de filtros para acessar a mensagem: somos os nossos próprios filtros.
É uma ilusão acreditar que será possível calar uma pessoa ou grupo pela política, pelo Judiciário, pela burocracia corporativa ou estatal. Conviver com fatos inconclusivos, opiniões discordantes e ideias de que desgostamos é algo que veio para ficar.
Em um momento assim é que o Fórum da Liberdade completa 35 anos com o retorno de seu formato híbrido, nos dias 11 e 12 de abril. Além do próprio Ferguson, teremos debatedores como Fernando Schüler, Luiz Felipe Pondé, John Cochrane, Melissa Chen e Alexander McCobin, para entender como conviver neste mundo em que filtrar as informações de qualidade será essencial para tomar boas decisões.
Esperamos vocês, mais uma vez, como há 35 anos, para debater livremente, sem medos ou receios de discordar.