Artigos | 17/07/2024
Paola Coser Magnani, Presidente do IEE
Sábado, 13 de julho, um ex-presidente dos Estados Unidos e candidato nas eleições foi retirado do palco durante comício na cidade de Butler, no Estado da Pensilvânia, depois de ser ferido no rosto por um atirador. Atingido, o candidato foi ao chão, e agentes de segurança o cercaram para protegê-lo.
A descrição parece a de uma cena de filme de ficção. Porém, a vida real persiste em se repetir e, por vezes, superar enredos cinematográficos. O ataque a Donald Trump não é o primeiro a que assistimos ao vivo a um político ou candidato. Em um ano de eleições na maior democracia do mundo, em que os nervos estão à flor da pele, a tolerância, o respeito e a liberdade de expressão deveriam ser soberanos — e esse mandamento precisaria ser seguido em todos os países.
Como disse George Orwell: “Se liberdade significa alguma coisa, significa o direito de dizer às pessoas o que elas não querem ouvir”. Mesmo assim, parece que para algumas pessoas faltou responsabilidade na hora de se expressar sobre o que não gostariam de ouvir.
Para haver responsabilidade, há de vir em primeiro lugar a liberdade. O que pudemos ler e vivenciar nas mídias sociais nos dias que se seguiram ao atentado a Trump é uma agressão à maior de todas as dádivas do ser humano: a vida. Pode ser que esse candidato não seja o meu preferido, nem esteja alinhado com a minha linha de pensamento. Ou seja membro de um partido contrário. Poderia citar diversos argumentos, mas nenhum justifica a comemoração da violência ocorrida.
Não importa quem foi, onde foi ou o contexto. Nenhuma violência política pode ser exaltada. A hipocrisia das redes sociais esqueceu que violência não tem nome, não tem favoritismo. Em uma sociedade em que se diz constantemente que as democracias estão em jogo, como compreender a exaltação de um atentado? É preciso revisitar os valores e entendê-los. Para os que defendem o ideal democrático de liberdades individuais, subordinadas ao Estado de direito, a violência política jamais deveria ocorrer.
Artigo publicado originalmente no Jornal Zero Hora em 17/07/2024