Um farol na Argentina

Artigos | 05/09/2023

Rodrigo Villa Real Mello, economista e associado do IEE

Há décadas a Argentina enfrenta problemas econômicos. A forma como os sucessivos governos populistas e de esquerda têm tratado a economia do país deveria servir de mau exemplo a todo o mundo. Porém, em mais de uma oportunidade neste ano, Lula encontrou-se com o presidente Alberto Fernández e sinalizou o seu apoio ao modelo vigente na Argentina.

Nos últimos 12 meses, a inflação do país vizinho acumula alta superior a 110%, e, no dia seguinte às eleições primárias para a Presidência, o Banco Central desvalorizou o peso argentino em quase 18%, bem como subiu a taxa de juros da economia em 21 pontos, para 118% ao ano.

O Prêmio Nobel Simon Kuznets afirmou certa vez que, em relação à economia, “existem quatro tipos de países no mundo: os desenvolvidos, os subdesenvolvidos, o Japão e a Argentina”. Diante dos dados acima e com grandes desafios pela frente, os argentinos adentram uma nova eleição em que os principais candidatos são a surpresa Javier Milei; o atual ministro da Economia, Sergio Massa; e a oposicionista Patricia Bullrich.

Milei esteve em Porto Alegre para o Fórum da Liberdade em 2022 e tem promessas diferentes das ideias tradicionais, como a dolarização da economia e uma grande redução do Estado. Considera-se um liberal libertário, ou seja, defende a liberdade individual como valor político supremo. Seguindo tal pilar, promete devolver aos argentinos a autonomia que lhes foi tirada à medida que empobreciam nas mãos do peronismo. As ideias de Milei são, portanto, um farol de esperança na conturbada Argentina. Contudo, após o seu destaque nas primárias, multiplicaram-se matérias classificando-o como de extrema direita.

Já o candidato governista, Sergio Massa, foi o responsável por congelamentos de preços, medida ineficiente e que nega a ciência econômica. Ademais, após as primárias, anunciou um acordo para congelar os preços de combustíveis no país até 31 de outubro, ao passo que o primeiro turno das eleições está marcado para o dia 22 de outubro. Massa também mantém uma restrição mensal à compra de dólares pela população, criando uma elevada cotação paralela. Todavia, curiosamente, nenhuma matéria o categoriza como extremista.

Essas omissões e contradições da opinião pública sobre os candidatos são desconhecimento ou pouca disposição por um debate amplo de ideias?


Artigo publicado originalmente no Jornal do Comércio em 05/09/2023

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