Artigos | 19/04/2023
Guilherme Wolf, artigo publicado no Boletim da Liberdade em 6/1/2022
Os dois últimos anos foram difíceis.
Um emaranhado de notícias tristes e alta polarização.
Sem espaço para a ambiguidade ou para a dúvida.
Novo ano, novas promessas. Reflexões profundas e perecíveis. Em meio a tantas certezas, diversas dúvidas:
O que 2022 nos guarda?
O que nos mantém unidos, enquanto brasileiros?
É o Óbvio Ululante: o complexo de vira-latas. Viva o eterno país do futuro.
O que é ser vira-lata?
É ser mestiço: uma imensidão de culturas, de sotaques e de tradições. Um Pelé e um Machado de Assis. Um país mestiço é um país de tolerância.
Ao mesmo tempo, o traço típico do vira-lata é a falta de fé em si mesmo, o “Narciso às avessas”.
E para cada descrente há um herói. Nosso povo derrotado anseia pelo salvador: surge JK. Cinquenta anos em cinco. Vamos construir Brasília, antro dos salvadores.
Assim vivemos décadas perdidas e décadas de ouro, oscilando entre o desengano e a fé radiante.
O que será de 2022 para os vira-latas? Otimismo fervoroso ou pessimismo terminal?
Há dois Messias frente a frente. Um deles decreta: “jogamos fora o complexo de vira- latas”. O outro rebate, pela memória de uma época áurea inexistente.
Amanhã vai ser outro dia?
O brasileiro, afinal de contas, não desiste nunca.
Viva a terceira via, bradam os esperançosos. Entre esquerda e direita, vamos para cima ou para baixo, para as diagonais, criemos novos eixos!
Outros, desprovidos dessa fé, baixam a cabeça e vão trabalhar, unidos pela cultura e distantes da política.
E, lá no fundo do peito, bate calado um restinho de orgulho. O trabalhador brasileiro, brilhante vira-latas, vai levando a vida nesse vaivém de caudilhos.
O elogio ao vira-lata, eis meu grito de esperança.
Nosso país mestiço e tolerante vai construindo seu futuro com as fortes dores do progresso. Em meio à polarização, vamos aprendendo. Afinal, a democracia é a pior forma de governo, à exceção de todas as outras:
O samba com cachaça, mistura de raça, mistura de cor,
O samba brasileiro democrata, brasileiro na batata é que tem valor.
*Guilherme Wolf é associado ao IEE.