Artigos | 24/07/2024
Gustavo Machado, sócio-diretor da Musa Capital e associado do IEE
A história do Brasil é recheada de grandes intervenções econômicas feitas por governos ao longo do tempo. No início do século 20, a República interveio para sustentar os preços do café, beneficiando os produtores paulistas. O Plano de Substituição de Importações (PSI) da Era Vargas buscava o desenvolvimento da indústria nacional. Nas décadas de 1950 e 1960, o gasto público exagerado almejava o desenvolvimento do país.
Mais recentemente, nos primeiros governos de Lula e na gestão de Dilma Rousseff, tivemos a intervenção para criar os campeões nacionais, empresas que contavam com fortes subsídios e gastos direcionados pelo governo, geralmente envolvendo obras públicas, no Brasil e no exterior. Os casos de corrupção marcaram esse período.
Nenhuma das referidas medidas surtiu o efeito desejado, causando má alocação de recursos e crises que deixaram o Brasil para trás no desenvolvimento mundial por mais de cem anos.
Aparentemente, a lição não foi aprendida. Apenas neste ano, o governo federal aumentou e criou impostos de importação de aço e produtos de baixo valor com o objetivo de proteger os setores de siderurgia e varejo, respectivamente. Tem aumentado os gastos públicos com o mesmo argumento do crescimento econômico induzido, tentou fazer um leilão de compra de arroz com o objetivo de segurar um possível aumento no preço do produto por causa da tragédia climática no Rio Grande do Sul, e fracassou – inclusive com ocorrência de “falcatrua”, como o próprio presidente Lula falou.
Mas quem paga por essas medidas descabidas? De onde sai o recurso que vai para as empresas e os setores protegidos?
Em qualquer intervenção governamental, ocorre uma transferência de renda dos prejudicados para os beneficiados pela medida, via gasto, tarifa ou subsídio. A compra de arroz do governo parece uma maravilha, mas não é.
O governo federal está tirando dinheiro da população, da saúde e da educação e enviando para os produtores asiáticos e empresas que ficarão responsáveis pela importação do produto. A intervenção também tira renda dos produtores gaúchos, que gastariam ou investiriam esse recurso aqui no estado, ajudando na reconstrução.
A intervenção na economia transfere o seu dinheiro, recolhido por meio de impostos, para os bolsos dos protegidos. Quem financia os erros grosseiros do governo é o povo.
Artigo publicado originalmente no Jornal O Sul em 24/07/2024