Artigos | 24/07/2024
Tiago Dinon Carpenedo, Vice-Presidente do IEE
Estamos na véspera da abertura oficial dos Jogos Olímpicos de 2024, que ocorrerão em Paris, capital francesa. As próximas semanas serão extremamente interessantes para todos aqueles que acompanham e admiram o mundo esportivo.
Nos Jogos de Tóquio de 2020, ocorridos em 2021 por conta da pandemia, o Brasil conquistou um total de 21 medalhas, sendo sete de ouro. Alcançamos a 12ª colocação entre as mais de duzentas nações que participaram dos Jogos. Não é o suficiente para nos considerarmos uma superpotência do esporte, mas ficamos bem posicionados.
Orgulhosamente, no futebol somos a seleção mais vitoriosa do mundo: ninguém revela tantos craques nem venceu cinco Copas do Mundo. A seleção olímpica de futebol masculino, entretanto, conquistou a primeira medalha de ouro somente em 2016. Em 2020, repetimos o sucesso, sagrando-nos os atuais bicampeões olímpicos.
Nos Jogos de Paris, não poderemos repetir o êxito. Na verdade, nem torcer pela seleção canarinho. A seleção masculina de futebol não conseguiu a classificação entre as dezesseis participantes do torneio. Ou seja, o sucesso recente (2016 e 2020) não pavimentou o sucesso futuro (2024).
Na esfera esportiva, a alternância é normal. Mesmo equipes e atletas favoritos sofrem com resultados inesperados. Bastam detalhes para ser derrotado pelo rival: um chute em que a bola trisca a trave e entra no gol na disputa por pênaltis, ou uma diferença de centésimo de segundo na corrida de cem metros rasos. Os esportes são extremamente dinâmicos.
Já nas esferas sociais, políticas e econômicas, os fatores que as impactam são complexos e estruturais. Portanto, melhoras e pioras não acontecem por obra do acaso e rapidamente. Mesmo os quatro anos entre as edições de Jogos Olímpicos - coincidentemente, o mesmo intervalo entre eleições no Brasil - são pouco para mudanças drásticas.
Usando a linguagem esportiva, "o jogo" aqui é outro: as instituições moldam nossa vida. E nossa sucessão de escolhas como nação molda nossas instituições. Por isso, convido o leitor para refletir sobre outros pódios que (não) estamos disputando.
O ranking Freedom in the World (organizado pela Freedom House) mede o nível de liberdades civis e políticas entre 210 nações e territórios: somos a 80ª colocada.
O World Press Freedom Index da Reporters Without Borders mensura a liberdade de imprensa: estamos posicionados na posição de número 82 entre 180 nações pesquisadas.
Já no Índice de Liberdade Econômica realizado pela The Heritage Foundation e The Wall Street Journal, a situação é ainda pior. Dentre as 184 avaliadas, somos a 124ª pior nação.
Esses são três rankings reconhecidos internacionalmente. Há muitos outros. Mas os resultados são semelhantes no que se refere a desenvolvimento e liberdades econômica, política e social. Somos medíocres. Nem mesmo poderíamos participar dos respectivos Jogos Olímpicos - nos quais estão os competidores de elite.
Essas palavras não são fruto de um ranzinza que busca ofuscar a grandeza das Olimpíadas e a nossa oportunidade de torcer pelo Brasil. Mas de alguém preocupado por nosso país estar, sucessivamente, distante dos pódios mais importantes: aqueles que impactam diretamente na vida das pessoas e em sua expectativa de futuro.
Artigo publicado originalmente no Jornal do Comércio em 24/07/2024