Artigos | 05/07/2023
Rodrigo Steffanello, empresário e associado do IEE
Quando criança me deparei com uma expressão estranha, “paradoxo”. Não sabia o que era, não sabia o que pensar, não sabia o que fazer diante do amontoado de letras. Precisei do auxílio dos meus pais para explicar e exemplificar o conceito. Fiquei impressionado com a nova palavra. Na minha mente, buscava exemplos de “algo que é, mas não é, ao mesmo tempo”.
Mas fiquei ainda mais impressionado com o processo intelectual pelo qual passei. Antes, esse conjunto de letras só não existia, exemplos não eram aplicáveis, identificar um paradoxo era impossível. Como poderia identificar algo se não conhecia um conceito que me permitisse identificá-lo?
Conhecer a nova palavra expandiu minha consciência, passei a ter uma nova ferramenta para observar e interpretar a realidade. Com o tempo, pude realizar novas ações a partir da existência dessa ferramenta. Então percebi…
Só poderia conhecer a partir de palavras, só poderia conhecer aquilo que se apresentasse a mim. Minhas ações seriam consequência dos meus conhecimentos, daquilo que extraísse ao ler, escutar e conversar. Portanto, quanto mais eu aprendesse, mais coisas poderia fazer, melhor poderia desfrutar a vida, mais livre eu seria. E eu precisava de muito pouco: apenas liberdade para conhecer novas palavras e expressões, liberdade para conhecer novos pensamentos, liberdade para aprender.
Como era bom quando me mostravam o que não sabia… mais uma ferramenta, mais um deleite, mais vida, mais capacidade de agir, mais independência…
Estranhei o dia em que ouvi que liberdade de expressão não é um valor absoluto. Ora, se não houver liberdade de expressão, não vou me deparar com novos “paradoxos”. Não terei como aprender.
E quando não aprendo, meu pensamento continua o mesmo. Minhas ações continuam as mesmas. Achei estranho… me pareceu que quem controla a expressão controla o pensamento. E qual a diferença entre controlar o meu pensamento e controlar a mim?
Fiquei cheio de questionamentos sobre o cara que me disse esta frase:
O que ele não quer que eu pense? O que não quer que eu pense acerca dele? O que ele não quer que eu faça, após saber de algo? Há mais alguma coisa que não estou questionando?
Ainda tenho a esperança de respondê-las um dia…
Artigo publicado originalmente no Jornal do Comércio em 22/06/2023