Artigos | 11/11/2024
Stefano Tremea, planejador financeiro e coordenador do IEE Impacto
O debate sobre o futuro das cidades exige mais do que infraestrutura e tecnologia. As cidades do futuro serão definidas pela capacidade de seus habitantes de se adaptarem, inovarem e criarem oportunidades. A mobilidade social, nesse contexto, torna-se o eixo central para a transformação, e ela depende, em grande parte, da capacidade dos indivíduos de tomarem a iniciativa de mudar suas condições.
Esperar que o Estado resolva questões básicas e importantíssimas como educação e emprego pode ser um grande obstáculo para o desenvolvimento pessoal. Com um quadro inchado, repleto de burocracias e um orçamento aplicado de forma ineficiente, o Estado demora a agir ou mesmo fica empacado. Um exemplo dessa inoperância foram as enchentes que abalaram o Rio Grande do Sul em maio de 2024. Enquanto o poder público ainda se organizava para fazer frente à tragédia, o movimento “O Povo pelo Povo” rapidamente mobilizou recursos e ajudou a população com a realização de resgates e doações, demonstrando que a sociedade civil é capaz de resolver problemas de forma mais ágil e eficaz. Essa perspectiva reflete a visão defendida por Ludwig von Mises de que a verdadeira prosperidade emerge quando o indivíduo assume a responsabilidade por seu destino, em vez de depender sempre do Estado.
Educação e empreendedorismo são os principais instrumentos para a mobilidade social. Iniciativas nesse sentido capacitam jovens para transformar suas realidades. A partir de uma educação focada em competências práticas, os jovens têm a oportunidade de entender o papel do empreendedorismo não só como uma saída econômica, mas também como ferramenta de inclusão social e superação de barreiras. A visão de que o desenvolvimento das cidades do futuro passa pela capacidade de promover oportunidades equitativas está em linha com o que Hayek defendia: a sociedade floresce quando os indivíduos, livres de intervenções excessivas, podem explorar ao máximo seus talentos e potencialidades.
Já existem muitos exemplos do que é possível ser feito em todas essas instâncias e como empresas, profissionais, instituições e demais integrantes da sociedade civil organizada podem contribuir com a ascensão social daqueles que estão à margem das oportunidades. O próprio Instituto de Estudos Empresariais (IEE), por meio do seu braço social, o IEE Impacto, atua diretamente nesses campos em Porto Alegre, executando projetos como o Professor Voluntário, que oferece aulas sobre finanças e tecnologia a alunos de escolas públicas, e o Empreendedores do Amanhã, que mostra como iniciar um negócio, gerir finanças e transformar ideias em oportunidades.
Aprendendo sobre empreendedorismo e mercado de trabalho, ganhando conhecimentos que não são passados nas escolas e sendo motivados, os jovens percebem que há alternativas e entendem que a ascensão social depende da educação continuada e da ação individual, não somente de políticas públicas. E esse tipo de oportunidade oferece um caminho de prosperidade a ser trilhado
por uma população. Com mais e mais iniciativas nesse sentido se multiplicando em cada cidade do país, poderemos fortalecer os indivíduos em sua trajetória, independentemente da vontade e da capacidade do poder público de fornecer educação e gerar emprego e renda a todos.
Como vimos nas enchentes de 2024 no Rio Grande do Sul, a sociedade civil organizada tem um papel essencial na criação de soluções para problemas complexos, e o mesmo vale para a mobilidade social. O futuro das nossas cidades está, portanto, diretamente ligado à capacidade de cada cidadão de explorar ao máximo suas potencialidades, tornando-se protagonistas capazes de mudar suas vidas e o mundo ao seu redor. Não acreditamos em atalhos, e, sim, no poder transformador da ação. Não há que se esperar o governo resolver, é preciso fazer acontecer. Somente na ação do indivíduo seremos verdadeiramente livres.
Artigo publicado originalmente na Exame em 11/11/2024