Artigos | 29/11/2024
Pedro Dias Dal Magro, engenheiro de produção e associado do IEE
O dilema entre um posicionamento rígido e uma maior adaptabilidade não é exclusividade do liberalismo atual. Ao longo da história, movimentos políticos de diferentes espectros enfrentaram o desafio de manter princípios firmes ou ceder em nome da relevância. Esse embate entre ideais intransigentes e flexibilidade prática definiu o caminho de muitas correntes políticas. Há algumas décadas, o liberalismo enfrenta sua própria versão desse dilema.
Movimentos e partidos liberais ao redor do mundo dividem-se entre defender uma linha mais imaculada ou buscar alianças para avançar suas ideias no campo político. Esse comportamento é evidente no Brasil, onde a política é dominada pelo "Centrão" - um bloco que privilegia a conveniência à ideologia. Em um ambiente em que a lealdade aos princípios pode levar ao isolamento, o liberal brasileiro precisa decidir entre manter-se firme ou adaptar-se.
Na Argentina, Javier Milei é uma rara exceção. Um liberal que, contra todas as expectativas, rompeu com a insignificância e mobilizou eleitores exaustos do estatismo. Milei, com sua postura combativa e antissistema, conseguiu um apelo popular que muitos liberais ao redor do mundo dificilmente alcançam. Sua trajetória levanta uma questão crucial: é possível para o liberalismo se tornar uma força relevante e popular sem se diluir? Como conquistar o entusiasmo das massas sem cair no populismo?
No Brasil, o partido Novo, que melhor representa o ideário liberal, obteve resultados variados nas últimas eleições municipais. Embora tenha mostrado crescimento, suas vitórias mais expressivas no Executivo, como em Joinville (SC) e Taubaté (SP), vieram de alianças e coligações - uma estratégia pragmática que contrasta com a postura independente defendida em outros tempos. Já em São Paulo e Porto Alegre, onde o Novo optou por candidaturas "puras", o desempenho ficou abaixo das expectativas, mesmo trazendo bons candidatos.
O liberalismo no Brasil precisa encontrar uma forma de engajar as pessoas sem renunciar aos seus princípios. A tarefa é construir uma conexão verdadeira, que amplie sua base e conquiste relevância sem comprometer a essência de suas ideias. Afinal, ser fiel aos ideais é crucial, mas saber adaptá-los para gerar impacto e relevância é o que realmente define uma força transformadora.
Artigo publicado originalmente no Jornal do Comércio em 29/11/2024