Artigos | 19/04/2023
Mateus Ferronatto, associado do IEE
Durante quase três anos de pandemia de Covid, ouvimos diversas vezes a frase “a economia deixamos para depois”. Esse “depois” chegou com efeitos devastadores mundo afora, e estamos apenas no início do que pode ser um desastre social e econômico. Durante grande parte do período pandêmico, tivemos elevada fatia de nossas liberdades restringidas, desde o simples direito de ir e vir até a obrigatoriedade do uso de máscaras.
Muitos negócios que geravam empregos e renda para milhões de pessoas tiveram, simplesmente da noite para o dia, de fechar as portas, impossibilitando o trabalho e a geração de renda. Para evitar um colapso ainda maior causado por suas próprias ações, governos do mundo todo injetaram bilhões de dólares em suas economias. O resultado dessas ações está começando a manifestar-se em forma de inflação e consequentemente diminuição de renda. Além da situação econômica, que pode ser considerada uma das mais graves desde a grande guerra, a pandemia criou uma brecha para governos serem cada vez mais fortes e autoritários, impondo restrições que antes eram impensáveis num estado de direito.
Nunca na história de sociedades democráticas desenvolvidas ao redor do planeta se teve conhecimento de tamanha restrição nas liberdades individuais como as que foram impostas durante a pandemia de Covid. Muitas sem embasamento científico ou evidência mínima de que tivessem algum efeito prático para conter a pandemia. Essas ações em grande parte foram tomadas com cunho político, utilizando a Covid como pretexto, abrindo assim espaço para que decisões arbitrárias sejam tomadas no futuro.
O controle do Estado, que já era grande em países como a China, tomou outra proporção, utilizando a Covid como pretexto para demonstrar o poder do Estado sobre a sua população. Um grande exemplo que vem ocorrendo nos últimos meses são os incansáveis lockdowns realizados em Xangai, capital econômica do país. Milhares de pessoas foram trancafiadas dentro de suas casas, e muitas foram apartadas de seus filhos à força.
Tais medidas foram tomadas muitas vezes devido à confirmação de apenas um caso dentro das comunidades, demonstrando assim o poder coercitivo do Estado chinês sobre sua população. Grandes ditaduras ao redor do mundo surgiram sob o pretexto de algum tipo de calamidade vivida pelo país. Hitler chegou ao poder por meio de discurso de que tornaria a Alemanha novamente uma potência mundial. Em um período pós-Primeira Guerra Mundial, em que o povo alemão estava desesperançoso, o discurso de Hitler parecia muito sedutor. Lentamente ele foi restringindo as instituições democráticas, até se tornar um verdadeiro autocrata.
Precisamos estar muito atentos às medidas tomadas sob pretextos excepcionais; elas podem ser a brecha para maiores restrições em nossas liberdades individuais. Ainda é muito cedo para conseguirmos visualizar as consequências das ações tomadas durante a pandemia, tanto no âmbito econômico como no social, porém, certamente elas virão nos próximos anos. Como já dizia Thomas Jefferson, o “O preço da liberdade é a eterna vigilância”.
Artigo publicado originalmente no Boletim da Liberdade em 4/8/2022