No meio do ano passado, fui correr com uma amiga tenista no Parcão. Conversamos sobre diversos assuntos, até que entramos na política. Ela então me disse: “Não gosto de falar de política, é chato e não tem nada a ver comigo”. Respondi: “Você pode até não gostar, mas as decisões tomadas na política, ou por motivos políticos, têm muita influência na tua vida”. Fiquei pensando em como poderia convencê-la disso. Obviamente poderia falar dos impostos exorbitantes pagos pelos brasileiros, do Plano Diretor, dos órgãos reguladores, das burocracias trabalhistas, mas ela provavelmente continuaria com a mesma sensação de distanciamento.

Como a vida dela sempre foi o tênis, resolvi “bater” nessa tecla, apesar de a relação não parecer tão óbvia. Por sorte, uma série de episódios ocorridos facilitou meu argumento. Em novembro de 2021, houve o caso de desaparecimento da tenista Peng Shuai, após acusar de assédio um membro de alto escalão do Partido Comunista chinês; em fevereiro de 2022, Novak Djokovic foi barrado do Australian Open e posteriormente de diversos outros torneios porque não quis se vacinar; e mais recentemente, atletas russos foram impedidos de participar de Wimbledon como forma de sanção por conta da guerra com a Ucrânia. Minha amiga então finalmente entendeu que não há como desvincular a vida em sociedade da política.

Com as eleições se aproximando, é importante que cada um tenha clareza de seu papel e de como funciona a democracia brasileira. Escuto muitas pessoas falando dos candidatos à presidência, mas pouquíssimas se preocupando com o Congresso Nacional e com a Assembleia Legislativa, que são peças-chave para o equilíbrio dos poderes e para a governabilidade do país. Eleger bons deputados e senadores é de fundamental importância, independentemente de quem estiver ocupando o Palácio da Alvorada.

Há quem diga que não vai votar pois não há quem o represente. Ora, vá representar a si mesmo da próxima vez. Na política não existe vácuo de liderança ou de representatividade. Não participar ou não escolher, nesse caso, também é uma escolha, e tem suas consequências, mesmo que distantes. Há diversas maneiras de se envolver na política: candidatando-se, votando, participando de entidades de classe, cobrando coerência dos políticos etc. O que não tem como é fugir da política. Portanto, pesquise, informe-se, envolva-se.

* Artigo publicado originalmente no Jornal Zero Hora em 28/9/2022