Artigos | 28/06/2024
Milena Waitikoski Pedroso, empresária, associada do IEE
Ao enfrentarmos a maior tragédia ambiental de nossa história, descobrimos que a sociedade civil é mais forte, capaz e organizada do que o poder público. O povo, aguerrido e bravo, não poupou esforços para salvar vidas. Voluntários se arriscaram sem se adequar ao horário de expediente ou de descanso, sem pedir hora extra.
Fico pensando o quão rápido o Brasil cresceria se o Estado não atrapalhasse a livre-iniciativa. O quanto seríamos mais prósperos e teríamos bairros e cidades melhores se o governo não confiscasse, por meio de impostos, a renda gerada pelo setor privado, sem dar o equivalente em retorno.
A explosão de iniciativa voluntária dos indivíduos livres no Rio Grande do Sul no esforço de salvamento das vítimas das enchentes foi impressionante. Apesar de sermos onerados pela alta carga tributária para manter o funcionamento da máquina pública, é admirável o quanto conseguimos arrecadar em doações na esfera privada. Se civis estão promovendo milhares de resgates, mantimentos, abrigos, remédios, água, transporte, combustível e segurança, o quanto a mais poderiam entregar se não carregassem o peso de um Estado inchado e ineficiente nas costas?
Diante do cenário trágico, o poder público agiu de forma burocrática e ineficaz, tendo uma sociedade civil disposta a colaborar e tomar a frente. Se a sociedade precisa de uma liderança, onde está a autoridade capacitada para comandar com eficiência as ações diante uma calamidade pública ambiental? Para a última pergunta, o governo Lula tem a resposta.
Paulo Pimenta, ministro da Secretaria de Comunicação Social, foi eleito pelo presidente Lula como autoridade federal para atuar na reconstrução do Rio Grande do Sul. Seria, nesse momento, a comunicação do governo mais importante do que a operação complexa de minimizar a devastação? Teria Pimenta qualificações e experiência em gestão ambiental, liderança de crises, coordenação de equipes multidisciplinares, conhecimento das leis ambientais e capacidade de tomar decisões rápidas e eficazes em emergências?
Para todas as questões acima, a resposta é não. Porém, quando a narrativa do governo federal se concentra em mostrar que o Estado é importante na crise e em tentar evitar qualquer crítica, Pimenta não passa despercebido. Na calamidade que enfrentamos, o ministro abriu um inquérito para perseguir opositores que denunciaram falhas e abusos do poder público. Só não percebe quem não quer: a narrativa do governo contra fake news se converteu no mais puro e simples combate às críticas do povo.
Não é hora de discursos, muito menos de cuidar da comunicação. É hora de reconstituir a infraestrutura do Rio Grande do Sul. É hora de prover moradia para as famílias que tudo perderam. A ajuda humanitária da sociedade civil tem sido primordial no amparo às pessoas atingidas, mas isso não exime a máquina pública de fazer a sua parte.
É hora de devolver para o Rio Grande do Sul a parte que os gaúchos aportam nos gordos cofres públicos. O governo federal terá de aparecer na proporção de seu orçamento. Já passou da hora de redimensionarmos o tamanho e as funções do Estado para que sirva a sociedade de forma eficiente e eficaz. Pimenta, é hora de temperar menos e agir mais.
Artigo publicado originalmente no Jornal O Sul em 28/06/2024