Artigos | 21/08/2024
João Evangelista Tavares, produtor rural e associado do IEE
O agronegócio brasileiro passou por uma verdadeira revolução nas últimas décadas. Hoje, o agro é responsável por um quarto do PIB brasileiro e atesta o protagonismo do País quando o assunto é produção de alimentos. O Rio Grande do Sul se destaca ainda mais nessa questão, sendo importante produtor de arroz. A produção gaúcha do grão representa 70% da oferta nacional, sendo essa cultura importante indutor econômico para o estado, principalmente para a metade sul, região entre as mais atingidas pelas enchentes de maio.
A tragédia provocada pelas chuvas já gerou um prejuízo de R$ 4,5 bilhões ao agronegócio gaúcho, porém, quando as enchentes ocorreram, a safra de arroz já estava 84% colhida. Dessa forma, o abastecimento estava garantido aos brasileiros. Todavia, enquanto os gaúchos sofriam a maior catástrofe climática do Brasil, ajudando uns aos outros em todas as formas de voluntariado, assim como os produtores de arroz, que trabalhavam voluntariamente com sua expertise de manejo de águas para a drenagem do aeroporto e o restabelecimento das cidades, o governo federal, em um gesto populista, lançou um leilão-relâmpago de R$ 7,2 bilhões para a compra do produto importado.
Além de comprovadamente desnecessário e prejudicial à economia do estado, já que a aquisição de arroz importado subsidiado gera uma cadeia de consequências negativas a uma economia que passa pelo seu maior desafio, com prejuízos bilionários, tal leilão acabou se provando um escândalo, com empresas sem experiência em comércio internacional vencendo e funcionários do próprio ministério afastados por suspeita de fraude.
Que Brasília consiga olhar com mais clareza para as necessidades e demandas dos empreendedores e produtores gaúchos, que são muitas e, até o momento, pouco contempladas, e evite repetir iniciativas atrapalhadas e que nada ajudam na recuperação do estado.
Ou ao menos que siga os conselhos do lendário Barão de Mauá: "O melhor programa econômico do governo é não atrapalhar aqueles que produzem, investem, poupam, empregam, trabalham e consomem".
Artigo publicado originalmente no Jornal do Comércio em 21/08/2024