É preciso consertar o dinheiro

Artigos | 06/12/2024

Adolfo Schneider, empresário e associado do IEE

Em retrospecto, o progresso histórico da humanidade é inegável: nosso tempo se tornou cada vez mais produtivo. Como uma forma de armazenamento para esse tempo despendido, criamos uma ferramenta essencial, o dinheiro. Por milênios, sociedades experimentaram diferentes tipos de moeda para entender que ela, assim como as nossas horas, deve ser escassa. No entanto, o dinheiro que usamos hoje vai em sentido oposto ao do nosso crescimento. Ao longo dos anos, seu poder de compra se deteriora e perde valor diante dos avanços que conquistamos. Em vez de seguir o curso natural de nosso desenvolvimento, o dinheiro está desalinhado e não serve mais ao seu propósito original. Algo parece estar quebrado.

A criação dos bancos centrais e a delegação do controle da emissão de moeda ao Estado representam, na essência, uma entrega também do controle sobre nosso tempo e trabalho. Hoje a oferta de dinheiro é definida por essas instituições, distorcendo o valor de nosso esforço. Em uma entrevista, Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, banco central norte-americano, expôs claramente o processo: “Nós imprimimos digitalmente. Como banco central, temos a capacidade de criar dinheiro digitalmente. Isso, na prática, aumenta a oferta de dinheiro”. Com isso, ao utilizar o dinheiro de hoje, estamos transferindo para outros o poder de decidir sobre nosso futuro. O que, em vez de nos dar segurança, aumenta as incertezas.

O controle sobre o dinheiro, portanto, equivale ao domínio sobre o tempo e, consequentemente, a liberdade das pessoas. Esse poder não passa despercebido pelos próprios banqueiros, como evidencia Mayer Rothschild, fundador do banco Rothschild, ao confessar: “Dê-me o controle da oferta de moeda de uma nação e não me importo com quem faz suas leis”. Quando a moeda é manipulável dessa forma, ela se torna uma ferramenta de dominação e exploração. Em vez de promover estabilidade, os alquimistas da moeda e seus aliados viram instigadores de guerras e exploradores de economias vulneráveis.

A Primeira Guerra Mundial eclodiu um ano após a criação do Federal Reserve. Coincidência ou não, a disseminação do controle da moeda nas mãos do Estado já havia contaminado a Europa no final do século 19 e permitiu despesas bélicas sem precedentes. Em 1920, a base monetária do dólar já havia dobrado, em decorrência dos gastos militares. Ron Paul revela, em “O Fim do Fed”, que apenas 21% dos gastos da guerra foram pagos por impostos, enquanto 56% vieram de dívidas garantidas pelo banco central e 23% de emissão direta de moeda, usurpando silenciosamente a poupança dos americanos. Como bem pontua Ludwig Von Mises, “Pode-se dizer, sem exagero, que a inflação é um meio indispensável ao militarismo. Sem ela, os impactos da guerra sobre o bem-estar tornam-se evidentes de forma muito mais rápida e profunda”.

De forma menos evidente, instituições como o FMI (Fundo Monetário Internacional) e o Banco Mundial aplicam uma estratégia de exploração velada. Em “Hidden Repression”, Alex Gladstein revela como esses organismos utilizam o poder de criar dinheiro para subjugar economias frágeis, frequentemente em parceria com governos autoritários em países subdesenvolvidos. Esses organismos oferecem empréstimos sem o consentimento da população, condicionados ao favorecimento de uma economia de exportação de recursos naturais e uma indústria de baixo valor agregado. A população, por sua vez, vê sua moeda desvalorizada, usada pelo governo como meio de pagar dívidas, o que intensifica a dependência econômica e aprofunda a exploração.

Como alertou John Adams, “Existem duas maneiras de conquistar e escravizar uma nação. Uma é pela espada. A outra é pela dívida”. O controle estatal sobre a moeda que utilizamos não é obra do acaso, é uma estratégia de domínio. Se desejamos liberdade, precisamos consertar o dinheiro.

 

Artigo publicado originalmente na Revista Forbes em 06/12/2024

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