Artigos | 18/04/2024
Felipe Hauck, empreendedor e associado do IEE
Em 2024, celebramos 30 anos do Plano Real. Seus antecessores? O real português circulou por cerca de 300 anos, até 1833, e o real brasileiro, por outros 109 anos, até 1942. Em seguida, o Brasil passaria por cinco mega desvalorizações de mil unidades de moeda em apenas cinco décadas (cruzeiro, cruzeiro novo, cruzado, cruzado novo, cruzeiro real).
Ao fim de cinco décadas de hiperinflação, uma unidade da moeda original equivalia a um quatrilhão da moeda nova. No que se tornou a mais bem-sucedida reforma monetária dos tempos modernos, Gustavo Franco e companhia terminariam com a hiperinflação com a introdução do real em 1994.
Mas, afinal, o que é inflação? De onde ela vem? Como pode ser controlada?
As medidas mais utilizadas são índices de preços: IPCA, IGPM e INCC. São alguns exemplos dos mais conhecidos. Esses indicadores medem mudanças nos preços dos produtos que compramos diariamente. Essas variações são consequência de diversos fatores, sendo a inflação apenas um deles. Colocando de outra forma: o aumento de preços é um sintoma da inflação, não sua causa.
As tecnologias desenvolvidas ao redor do mundo fazem com que virtualmente qualquer produto ou serviço possa ser produzido hoje com menos insumos e mão de obra do que em 1994. Ora, se domamos a inflação, e os trabalhadores e empresas estão produzindo mais com menos, por que os preços continuam subindo? Se a resposta não está no denominador (bens e serviços), ela só pode estar no numerador (base monetária).
Um exemplo concreto: segundo o Dieese, o preço de uma cesta básica em Porto Alegre aumentou de cerca de R$ 175,00 em dezembro de 2004 para cerca de R$ 800,00 hoje. O custo subiu 4,6 vezes!
No mesmo período, de acordo com dados do Banco Central, a base monetária no Brasil subiu 4,7 vezes! Coincidência? Claro que não. Para cada R$ 1,00 existente em 2004, hoje existem cerca de R$ 5,00.
Quanto mais pedacinhos de papel impressos em Brasília, mais papeizinhos são necessários para a compra de alimentos. O que mudou nos últimos 20 anos não foi o preço dos alimentos. O que mudou foi o valor dos pedacinhos de papel.
O responsável por criar inflação é o dono da impressora: o governo federal.
Artigo publicado originalmente no Jornal do Comércio em 18/04/2024