Artigos | 19/04/2023
Tiago Carpenedo, artigo publicado em ZH em 29/1/2022
Você avança a passos largos em um terreno desconhecido. Num momento de deslize, pisa sobre areia movediça e começa a afundar. Bem-intencionado, movimenta-se com vigor para tentar se salvar, em vão.
Caso você caia em areia movediça, saiba que o melhor a fazer é pouco intuitivo: nada. Quanto mais se mexer, mais irá afundar. Seja racional e paciente, pois a densidade do seu corpo e das matérias ali presentes o fará flutuar e permitir se libertar.
Eis um ensinamento prático, ainda que sobre um perigo praticamente ausente no nosso dia a dia. Contudo, o mesmo raciocínio pode ser estendido a outro, de comportamento similar e muito comum nas rodas de debate: a busca pela “justiça social”.
O movimento pela chamada justiça social equipara-se a um poço de areia movediça. Muitos se movimentam freneticamente ao engajar energia e intelecto em prol desse ideal, revestido de contornos aparentemente nobres. No entanto, sem compreenderem as consequências de seus movimentos, mal sabem que estão mais próximos do oposto: a injustiça social. E o fazem ao impedir o funcionamento dos mecanismos de livre mercado, que geram renda e oportunidades para aqueles que mais precisam. Nas palavras de Milton Friedman: “Um dos maiores erros que existem é julgar os programas e as políticas públicas pelas intenções, e não pelos resultados”.
Em sociedades que visam a prosperidade, a tentativa de impor justiça social desencadeia aberrações: falta de liberdade de expressão, pela obsessão com o politicamente correto; desrespeito ao Estado de Direito, com a prática do ativismo judicial; desincentivo a investimentos e geração de empregos, por intervenções que forçam a redistribuição da renda. O governo perverte sua função basilar de garantir as liberdades individuais e passa a definir – arbitrária e compulsoriamente, ao vento dos interesses políticos – quem tem direito a quê.
Por analogia, é a pessoa que cai e se debate na areia movediça. Quanto mais se mexe, pior a situação se torna, criando um círculo vicioso. Neste ano, votaremos na primeira eleição da década. Já é possível observar discursos tão bem-intencionados quanto equivocados. Não caia na areia movediça.
Tiago Dinon Carpenedo, Empresário e associado do IEE