Artigos | 19/04/2023
Victoria Jardim, Presidente do IEE
O final de ano está chegando, e crescem as expectativas e planos para 2023. Infelizmente, nós, gaúchos, já temos a certeza de que não começará nada bem. Quem viajar para apreciar a virada de ano em Santa Catarina sabe que terá de ouvir os “hermanos” se gabando da conquista da Copa do Mundo. Pior que isso, parece que os brasileiros, em vez de se espelharem nas qualidades dos argentinos, como a garra e a resiliência para atingir objetivos, resolveram imitar as partes ruins.
Um exemplo é o empréstimo de 689 milhões de dólares que o BNDES ficou de conceder para o gasoduto dos argentinos, mesmo em um momento no qual o próximo governo brasileiro fala em furar o teto, e sem a garantia, como circulam os memes, de que Messi jogará a próxima Copa de amarelo (pois essa seria a única garantia que a Argentina conseguiria bancar). E por falar em BNDES, a polêmica em torno da Lei das Estatais, que possibilitaria a ascensão de Aloizio Mercadante ao comando do banco, teve grande repercussão no mercado – 9,8% de queda nas ações ordinárias da Petrobras –, que já perdeu quase R$ 120 bilhões em valor de mercado desde a eleição.
Mas não se preocupe, como sempre, o Leviatã dará seu jeito. Por sorte, temos o Supremo Tribunal Federal para zelar pelo bem de todos, e Gilmar Mendes parece ter incorporado “La Mano de Dios” com sua solução divina para o problema do teto: excluir o Bolsa Família (atual Auxílio Brasil) do cálculo. Isso vai ajudar na aprovação da PEC do Estouro – que provoca um aumento de cerca de R$ 200 bilhões nas despesas públicas. Mas tudo certo, afinal, segundo Mendes, essas despesas se fazem necessárias para cumprir direitos fundamentais preconizados pela Constituição. E aqui no Brasil é como em campo, melhor não brigar com o juiz para não levar cartão vermelho, pois a caneta de um equivale ao apito do outro.
Mas, afinal, depois do pedido de VAR para descondenação de Lula, o que podemos esperar de seu governo? Difícil dizer, mas até aqui, pelo que vimos, um Natal muito generoso para os simpatizantes do Papai Noel que se vestem de vermelho, uma posse com vasta lista de atrações e uma economia pujante – cheia de crédito para garantir a picanha de domingo. Ou seja, estamos cada vez mais próximos do modelo argentino. Espero que isso ao menos signifique que ganharemos a próxima Copa.