Artigos | 19/04/2023
Guilherme Benezra, artigo publicado no Boletim da Liberdade em 17/2/2022
Por que grandes parcelas da população já defenderam (e algumas ainda defendem) um regime tirânico? Quando estudamos história, é comum ficarmos instigados com o período de ascensão do nazismo e do fascismo. Como aquelas sociedades chegaram a um patamar tão repudiável de autoritarismo e repressão? Hoje, olhando para trás, é fácil entendermos que aquelas pessoas estavam defendendo as ideias erradas, mas será que aqueles indivíduos, em seu tempo, tinham essa compreensão? Talvez a melhor forma de ganhar o apoio das massas seja convencê-las de que elas estão do lado da bondade e da justiça, enquanto os outros são inimigos da civilização. Quem não iria se sentir bem ao combater as más pessoas da sociedade?
Já no século XVIII, ouvimos os primeiros liberais falando do termo (não necessariamente com essa terminologia) cientificismo. A ciência como mecanismo de estudo e descoberta da verdade foi fundamental para o avanço da sociedade. Mas e se a ciência fosse usada para fins políticos? E se o termo ciência fosse usado como paradigma moral, ou seja, se a verdade conveniente para a política fosse endossada pela ciência, enquanto as demais conclusões seriam não científicas? O que vemos em ascensão hoje talvez seja a prova mais cabal necessária para a compreensão do nascimento do totalitarismo.
Com o estouro da pandemia, vemos os governos, cada vez mais, tomando medidas autoritárias na tentativa de controlar o vírus. Em vez de usarmos de um debate livre, com as melhores ideias e soluções, essas medidas autoritárias são endossadas pela “ciência”. O mero questionamento desses especialistas outorga ao questionador o título de negacionista. Hoje já se sabe que quem não toma a vacina opta, voluntariamente, por aumentar a probabilidade de desenvolvimento de formas mais graves da doença (não entrarei nesse debate em particular). Ainda assim, já se provou que essa decisão não afeta ninguém além do próprio indivíduo, visto que mesmo os vacinados pegam e transmitem o vírus.
Essas pessoas, os negacionistas, nos termos da mídia, não prejudicam ninguém. Então, para resolver o problema do livre-arbítrio quanto a injetar ou não a vacina em seu corpo, essas pessoas foram colocadas como pessoas más para a sociedade. Podem ter seus direitos cassados, receber multas e vários outros tipos de restrições sociais e econômicas. A paranoia chegou ao nível em que os autores da ciência se veem como o lado certo da história e em que tudo isso que vem ocorrendo é certo e justificável, pelo bem comum. Em suma, estamos presenciando como o totalitarismo pode emergir na sociedade e como ideias que pareciam ter sido abandonadas no século passado voltaram com mais força e uma nova roupagem.
*Guilherme Benezra é associado do IEE.