Ainda viveremos em um admirável mundo livre?

Artigos | 18/07/2024

Daniela Russowsky Raad, Diretora de Relações Institucionais e Fórum da Liberdade do IEE

Um mundo de sociedades prósperas, inovadoras, livres e com oportunidades de crescimento e progresso ocupa o imaginário de cidadãos otimistas que veem, no futuro, um lugar promissor. Mas será que estamos trilhando o caminho certo para alcançar esse cenário?

Em fevereiro de 2022, acompanhamos a invasão da Ucrânia pela Rússia, iniciando uma guerra que poucos imaginavam vivenciar em pleno século 21, e que se perpetua até hoje. Em outubro de 2023, vimos eclodir um novo conflito, provocado pelo brutal ataque realizado pelo grupo terrorista Hamas a civis israelenses, desencadeando um combate na Faixa de Gaza, ainda em andamento. Neste momento, há a iminência de uma nova frente de guerra de Israel contra o grupo terrorista Hezbollah, que lança ataques ao país a partir do sul do Líbano, sob o comando do Irã – que reproduz ataques em inúmeras localidades por meio de suas proxies. Para completar, os olhos se voltam à China, com apreensão acerca de uma invasão e posterior anexação de Taiwan.

Se se acreditava que as guerras expansionistas e de raiz ideológica haviam ficado para trás no caminho para uma sociedade mais desenvolvida, parece que houve um engano. Enquanto o Eixo das Ditaduras, composto por Rússia, Irã e China, somados aos seus aliados menores, Venezuela e Coreia do Norte, investe em sua luta contra os valores ocidentais de liberdade e progresso, o Ocidente se vê obrigado a juntar esforços e mostrar que os valores que norteiam a sociedade ocidental são consistentes e fortes, e que lutará por eles – ou sucumbirá ao totalitarismo.

Internamente, os países de valores ocidentais enfrentam desafios para a manutenção de seus princípios fundamentais, como a proteção aos direitos humanos, que se traduz em viver com dignidade e, portanto, em liberdade. Não há dignidade na existência humana sem a liberdade de expressão, de religião, de vivência, de desenvolvimento, de ir e vir.

No Brasil, os desafios não são poucos. Conhecido como o “país do futuro”, devido ao imenso potencial econômico e social concentrado em um território de mais de 8 milhões de quilômetros quadrados, com uma população de mais de 200 milhões de habitantes, aguardamos o dia em que poderemos dizer: o futuro chegou. Muito embora o Brasil ofereça interessantes oportunidades para empreender, com uma natureza exuberante, um mercado consumidor vasto e diverso, a burocracia e a carga tributária, associadas à sua complexidade e ineficiência estatal, representam desafios substanciais.

Por outro lado, enquanto a busca pela prosperidade necessariamente passa pela liberdade, é preciso combater a supressão dos direitos fundamentais dos cidadãos de expressarem suas opiniões e se manifestarem contrariamente a medidas adotadas pelos seus governantes. As leis deveriam preservar e ampliar a liberdade dos indivíduos, e não tolher. Para isso, o sistema de leis de um país deve ser claro, simples e cumprido por todos, inclusive (e especialmente) pelo Estado e seus agentes, de modo a permitir a vivência digna de seus cidadãos, diminuir a burocracia desnecessária e destravar processos de inovação e desenvolvimento no mundo dos negócios. A complexidade do sistema de regulamentação e legislação no Brasil acentua a insegurança jurídica local.

Para liberar o potencial brasileiro e atingirmos um cenário de prosperidade, avanço e liberdade, devemos enfrentar nossos desafios. No entanto, não é fácil encontrar soluções para esse cenário de paralisia gerado pelo gigantismo estatal e suas consequências. Com a finalidade de propor caminhos, desde 1988, o Instituto de Estudos Empresariais (IEE) viabiliza uma plataforma de debates qualificados sobre os temas mais relevantes nas sociedades atuais: o Fórum da Liberdade.

Classificado pela Revista Forbes (2013) como “o maior debate político, econômico e social da América Latina”, o evento teve a 37ª edição em abril deste ano, em Porto Alegre, e justificou o reconhecimento recebido por anos de entrega. O Fórum contou com dois palcos de debates, mais de 20 horas de conteúdo presencial e 40 conferencistas de renome nacional e internacional, além de uma linha do tempo contendo exposições sobre os desafios para a prosperidade econômica, os limites do poder do Estado, geopolítica, liberdade de expressão, sustentabilidade e histórias de empreendedorismo inspiradoras.

Ao buscar responder à pergunta se vivemos em um “Admirável Mundo Livre?”, o Fórum da Liberdade foi norteado por questionamentos sobre a necessidade de um recálculo de rota: “Como garantir que o avanço tecnológico seja um veículo para a liberdade, e não uma ferramenta de restrição e controle?”, ou “Estamos realmente caminhando em direção a um Brasil mais livre?”. Nos palcos do Fórum da Liberdade, é possível vivenciar a verdadeira experiência da construção da sociedade que queremos, por meio de análises críticas e do debate de ideias.

Ao longo de 37 anos de realização, o Fórum da Liberdade já teve mais de 80 mil participantes, 400 conferencistas, 123 palestrantes estrangeiros, 27 chefes e ministros de Estado, cinco prêmios Nobel, bem como mais de 50 lideranças políticas nacionais e estrangeiras presentes. Os números grandiosos do evento atestam a vontade de encontrar soluções diante da complexidade e da dificuldade de mudar um país que sofre para avançar, carregando nas costas uma máquina estatal pesada que freia o desenvolvimento de toda uma nação.

A discussão sobre como alcançar um mundo melhor seguirá colaborando em alto nível com ideias para atingir esse objetivo em 2025, na 38ª Edição do Fórum da Liberdade. Após vivenciar a maior catástrofe ambiental do estado, o povo do Rio Grande do Sul experimenta, hoje, uma prova de força e resiliência, com o apoio de tantos outros brasileiros que mostraram, desde maio, o poder de ação do indivíduo. Essa é a força motriz que gera mudanças e traça caminhos para o futuro próspero que tanto se almeja, e, portanto, não haveria local mais adequado para abrigar esse debate.

É com esse pano de fundo repleto de conflitos, tragédias ambientais e desafios para a democracia ocidental que nos perguntamos se ainda viveremos em um admirável mundo livre ou se o apogeu da liberdade já passou. As respostas só serão possíveis com diversidade de ideias, pensamento crítico e amplo debate, que são os alicerces do Fórum da Liberdade. Só assim poderemos construir uma sociedade próspera enraizada no presente, e não na promessa de um futuro que nunca chega.

 

Artigo publicado originalmente na Revista Forbes em 18/07/2024

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