A tragédia política e a necessidade de refundar o setor público brasileiro

Artigos | 19/06/2024

Rodrigo Villa Real Mello, economista e associado do IEE

O desastre ocorrido no Rio Grande do Sul, se analisado com atenção, remete-nos aos conceitos acerca da natureza do Estado (setor público) e da natureza do indivíduo.

No clássico livro “Leviatã”, o filósofo inglês Thomas Hobbes afirma que o “homem é o lobo do homem” ao explicar uma natureza humana egoísta e propensa à violência. Sendo assim, a contenção desses indivíduos deveria ser feita por um poder central, como o Estado. Isto é, para escapar de um cenário caótico e perigoso, os indivíduos cedem parte de sua liberdade e direitos naturais a um governo soberano, o leviatã, em troca de segurança e proteção.

Ocorre que esse leviatã estatal nunca parou de crescer e exigir mais recursos para a sua existência.

No Brasil, o crescimento da arrecadação por meio da tributação não representou melhorias ao desenvolvimento humano ou serviços prestados à população, e, em meio à tragédia gaúcha, o que percebemos é que a contrapartida que justificaria a existência do leviatã não se concretizou.

A infraestrutura pública colapsou, e a resolução imediata não veio da esfera pública – até porque não teria como vir, dada a sua natureza burocrática. Pior ainda: dos governos, o que recebemos foi politização e tentativas frequentes de palanque, evidenciando uma tragédia política.

Por outro lado, do indivíduo vimos colaboração, empatia e união instantânea. Os saques, tentativas de golpes e violência compreenderam uma minoria de pessoas, cujo número não se aproxima do movimento histórico de cidadãos ao redor do Brasil que uniram esforços para ajudar.

A situação contradiz o que Hobbes escreveu. O Estado brasileiro não foi capaz de prover segurança, e os indivíduos ascenderam como atores principais fazendo o bem.

Assim, não é em vão que tenha surgido um movimento de resposta da classe política e da mídia com ataque aos discursos de “o povo pelo povo”. A percepção popular de que o leviatã não se justifica causa desconforto naqueles que exigem mais Estado e se beneficiam dele.

É evidente que precisamos refundar o setor público brasileiro. Urge a necessidade de maior eficiência para enfrentar os grandes problemas que estão à frente. A tragédia no Rio Grande do Sul é um retrato da tragédia do Estado.

 

Artigo publicado originalmente na Gazeta do Povo em 19/06/2024

Você também pode se interessar

Fale Conosco

Tornar a sociedade mais livre através da formação de lideranças: esse é o nosso propósito. Se você deseja conhecer mais sobre o nosso trabalho, clique no botão abaixo e envie uma mensagem.

Imagem - Fale Conosco