Artigos | 25/10/2024
Eduardo Tebaldi, empresário e associado do IEE
Noventa e cinco por cento das decisões que tomamos diariamente são feitas de forma impulsiva. Daniel Kahneman, Prêmio Nobel de Economia, mostrou, por meio de sua pesquisa, que a maior parte das nossas escolhas é feita pelo que chamou de Sistema 1, o modo preferencial de tomada de decisão do cérebro, que é rápido, intuitivo e emocional, enquanto cabe ao lento Sistema 2 processar raciocínios mais meticulosos. Deveríamos deixar as resoluções importantes em nossa vida e nos negócios, mais ponderadas e racionais, para o Sistema 2. Mas será que é isso que fazemos?
Hoje é conhecida uma miríade de vieses cognitivos que afetam nosso processo de tomada de decisão. Um deles é o viés do custo afundado (sunk cost). Ele representa a insistência em continuar em um caminho de ação mesmo que o resultado seja negativo, em razão dos investimentos já realizados, embora irrecuperáveis. Um exemplo seria um técnico de futebol que, após a contratação de um jogador caro, percebe que ele está jogando muito mal, mas ainda assim continua a escalá-lo na equipe porque não poderia deixá-lo no banco de reservas depois de o clube ter investido tanto no seu passe.
Conhecer os vieses aos quais estamos sujeitos é um passo importante para evitar cometê-los. Além de bloquear os vieses, é fundamental, para a tomada de decisão racional, trabalhar adequadamente com probabilidades. O método chamado árvore de decisão pode ser usado sempre que é preciso fazer escolhas que envolvem múltiplos cenários com graus de incerteza envolvidos. Digamos que nosso técnico de futebol esteja vencendo a partida e considere substituir um atacante por um zagueiro. Ele poderá considerar a probabilidade de fazer outro gol ou de sofrer um, em cada cenário, e, por meio de uma árvore de decisão, encontrar a opção de maior valor esperado.
Sofremos, inevitavelmente, de vieses ao tomar decisões, mas podemos nos defender da irracionalidade. Registrar as principais decisões, para depois revisitá-las, também pode dar início a um processo de melhoria contínua. Grupos como conselhos empresariais têm papel fundamental em exigir a racionalidade. Convido o leitor a observar esses pontos em seu dia a dia e, quem sabe, tomar melhores decisões.
Artigo publicado originalmente no Jornal do Comércio em 25/10/2024