A mulher que derrotou a Argentina e inspira Milei

Artigos | 20/02/2025

Paulo Giacomelli, Diretor de Formação do IEE

A história do liberalismo econômico tem poucos protagonistas tão marcantes quanto Margaret Thatcher. A "Dama de Ferro" refundou o Reino Unido nos anos 1980, desmantelando o Estado inchado, privatizando estatais e enfrentando sindicatos que emperravam o crescimento do país.

Seu objetivo era claro: devolver ao mercado sua primazia e reduzir a interferência governamental. Seus resultados são incontestáveis, tanto que nem mesmo Tony Blair, no auge de sua popularidade, reverteu a matriz econômica thatcherista.

Mais de 40 anos depois, o presidente Javier Milei trilha um caminho semelhante na Argentina, um país sufocado por décadas de políticas estatizantes que levaram a inflação a níveis estratosféricos. Como Thatcher, ele entende que a única saída para a crise é um choque de liberalismo, reduzindo o tamanho do Estado e reequilibrando as contas públicas.

Ambos enfrentaram oposição feroz. Thatcher foi duramente criticada pela esquerda britânica e pelos sindicatos, que a acusavam de desempregar milhões e aprofundar desigualdades. Milei, por sua vez, lida com resistência dentro do próprio sistema político argentino, além de uma sociedade acostumada ao assistencialismo estatal.

No entanto, os números começam a demonstrar que suas políticas estão surtindo efeito: a inflação argentina, que atingiu um pico de 289% em abril de 2024, já apresenta fortes sinais de recuo, e o mercado financeiro reagiu positivamente, com o índice Merval dobrando de valor.

A trajetória de Thatcher – que completaria 100 anos em outubro de 2025 – mostrou que, mesmo diante de um cenário de contestação, medidas de austeridade e liberalização podem reverter décadas de decadência econômica. Seu legado moldou o Reino Unido moderno, tornando-o uma economia vibrante e competitiva.

Se Milei conseguir sustentar sua agenda sem ceder a pressões populistas, poderá fazer da Argentina um caso raro de recuperação econômica na América Latina. O sucesso de sua empreitada não se dará sem sacrifícios, mas, como aconteceu na era Thatcher, os frutos desse esforço poderão ser colhidos nas próximas décadas, deixando para trás a falência promovida pelo estatismo.

A grande ironia desse paralelo entre Thatcher e Milei é que seus destinos estão curiosamente entrelaçados pela história. A mulher que redefiniu o liberalismo no século 20 derrotou a Argentina na Guerra das Ilhas Falklands, fato que acabou revertendo a impopularidade gerada pelas políticas de austeridade e garantindo sua continuidade no governo. Quatro décadas depois, é justamente na Argentina que a chama liberal ressurge com potencial de se estabelecer como paradigma para o século 21.

Se a Argentina conseguir se reinventar como o Reino Unido fez nos anos 1980, será a maior prova de que a visão de Thatcher venceu a guerra mais importante: a das ideias.

 

Artigo publicado originalmente no Jornal do Comércio em 20/02/2025

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