Artigos | 16/05/2024
Daniela Russowsky Raad, Diretora de Relações Institucionais e Fórum da Liberdade do IEE
Diante da maior catástrofe climática já vivenciada pelos gaúchos, surgem verdadeiros heróis. São mais de quatrocentos municípios atingidos, mais de cem mortes, centenas de feridos e desaparecidos, além de milhares de desabrigados. Da falta de água tratada e energia elétrica ao isolamento de cidades pela destruição de estradas, a sobrevivência da população atingida só é possível em razão da mobilização da sociedade civil.
Nesse cenário devastador, a solidariedade da população se destaca. As imagens são emocionantes: pessoas comuns utilizam barcos, jet skis e pranchas para resgatar famílias inteiras, inclusive aquelas que pareciam ter sido esquecidas. Os voluntários, verdadeiros heróis desconhecidos, arriscam suas vidas para salvar seus concidadãos, demonstrando uma coragem admirável. Outros heróis mobilizam recursos para garantir a sobrevivência daqueles que perderam tudo e precisam ser acolhidos. Cada um fazendo a sua parte dentro de uma grande rede de mobilização.
A lição de solidariedade dada pela sociedade civil reforça o poder do indivíduo de desenvolver-se dentro da sociedade. Movidos pelo desejo de mudar de uma situação para outra melhor, as pessoas buscam ajudar umas às outras, tornando-se o verdadeiro motor do desenvolvimento de soluções e, literalmente, salvando vidas.
No Brasil, entre tantos movimentos que marcham contra a maré do progresso, o povo gaúcho, em meio a tamanha dor, mostra o real significado da disposição de que "todo o poder emana do povo", contido na Constituição Federal. Demonstra que o poder é emanado da eleição de representantes, mas, também, da ação individual direta de cada um desses heróis que estão dedicados a salvar desconhecidos e mobilizar recursos para auxiliar a sua comunidade.
São tempos difíceis, e haverá muitos obstáculos. Os impactos econômicos são alarmantes, com indústrias sofrendo perdas enormes e produtores rurais com áreas danificadas e capacidade produtiva afetada. A reconstrução em meio a dificuldades econômicas será o próximo desafio, mas o aprendizado é fundamental para o desenvolvimento.
A reconstrução exigirá a simplificação de processos, a redução da burocracia, o envolvimento de especialistas e investimentos significativos em novas tecnologias e soluções. Demandará mais liberdade de agir e mais poder nas mãos dos indivíduos. A população não pode mais ficar exposta a catástrofes que causem tamanha destruição, e o desenvolvimento é crucial para mitigar impactos e garantir maior segurança.
A mensagem do povo gaúcho deve ser ecoada pelo Brasil. Deve ser celebrada, com orgulho, pela população brasileira, e utilizada como combustível de empoderamento das pessoas para a luta constante pela liberdade, pelo direito de exercer suas capacidades de desenvolvimento e reconstrução; de ser reconhecidas como seres capazes de agir e de se responsabilizar. O povo deve lembrar que é na sua força que há a competência de fazer o inimaginável, e que o poder está nas mãos de cada um dos indivíduos, e não em um ente externo.
São nas circunstâncias mais difíceis que aprendemos as maiores lições.
Artigo publicado originalmente no Jornal do Comércio em 16/05/2024