Artigos | 28/06/2024
Paola Coser Magnani, Presidente do IEE
Em maio deste ano, o estado do Rio Grande do Sul viveu a sua maior tragédia ambiental. Dos 497 municípios gaúchos, 95% foram atingidos, com mais de 2 milhões de pessoas impactadas, das quais pelo menos 550 mil ficaram desalojadas. A economia foi e está sendo severamente prejudicada em diversos setores, desde o agronegócio até eventos e turismo. E em meio a tudo isso, a magnitude da catástrofe se revelou na dor e no sofrimento de cada vítima, de cada família que perdeu entes queridos e, às vezes, todos os bens que conseguira juntar ao longo de toda a vida.
Nos primeiros dias, houve o caos. Parecíamos estar todos em choque, paralisados. Os governos ficaram travados pela dimensão do horror, pela amplitude das ações que deveriam empregar e pela dificuldade com que o Estado gigante se move para tomar medidas. Mas somos indivíduos com histórias conectadas, agindo cada um por ímpeto próprio. Logo a paralisia deu lugar ao melhor de cada pessoa, em sua esfera individual, arregaçando as mangas como podia.
O indivíduo é a menor parte da sociedade, e ela faz toda a diferença. Basta uma pessoa ser o farol que ilumina a escuridão para as demais se tornarem luz juntamente. Alguns se solidarizaram mais pelas causas dos animais, outros pelas minorias indefesas ou pelos seus conterrâneos. O ímpeto de querer ajudar foi a força motriz de cada um. Não precisou de ordem ou lei para que colocássemos em prática todo o esforço possível.
Como cada um sabia qual era a sua obrigação? Fala-se tanto em direitos que, na hora de exercermos a prática dos nossos deveres, as explicações somem. Entretanto, nenhum governo precisou alcançar um bote e um remo para os voluntários para que eles soubessem o que era necessário ser feito. A vontade de agir e ajudar está dentro de cada um que tem os valores bem definidos. E a liderança emergiu do caos.
Sabemos como isso funciona. A liderança floresce justamente em situações extremas e adversas. Ao organizar as doações em um abrigo, ao mobilizar as redes de contatos para encontrar casas disponíveis, ao se dispor a ajudar e, com a força do corpo, remar horas e horas para encontrar vidas. Os verdadeiros líderes prosperaram ao trabalhar com as ferramentas que tinham para solucionar da maneira mais eficiente e ágil possível os desafios que apareciam. Parece que ser líder é algo extraordinário e raro, mas a verdade é que são poucos os ingredientes que o diferenciam.
Esse panorama que presenciamos, com a sociedade civil articulada, resolvendo rapidamente os desafios, está muito presente nos conceitos que o Instituto de Estudos Empresariais, o IEE, defende. É simbólico que em 2024, quando o IEE completa 40 anos, tenhamos presenciado essa tragédia climática. O exemplo dado pela reação da sociedade civil é o núcleo de tudo em que acreditamos em prol de um país livre.
O IEE está forjado em quatro princípios: liberdade, responsabilidade individual, Estado de Direito e propriedade privada. Olhando agora para a trajetória do IEE, fundado em Porto Alegre em 1984 por um grupo de jovens empreendedores, torna-se mais fácil compreender o protagonismo dos líderes formados.
Em meio ao cataclismo, cada um de nossos líderes se mobilizou de maneira voluntária para reerguer a sua empresa, o seu bairro, a sua vizinhança e a sua casa, todos formados por uma cultura sólida e focados em reconstruir o nosso Rio Grande do Sul. Nesses 40 anos, são gerações convivendo e aprendendo umas com as outras em prol de um objetivo: formar líderes comprometidos com um ideal democrático de liberdades individuais, subordinadas ao Estado de Direito. Hoje já formamos mais de 250 líderes que acreditam na liberdade e na descentralização do poder, e vemos muito claramente, nesse colapso causado pelas enchentes, a importância da trajetória pela consolidação do pensamento de liberdade e liderança, de agir por si para ajudar o outro.
Nossas façanhas têm servido de modelo a toda a Terra, como diz a letra do hino rio-grandense. Que o espírito de liderança e respeito continue a guiar nossas ações e a inspirar futuras gerações.
Artigo publicado originalmente na Revista Forbes em 28/06/2024